A foto da entrada da Netflix na Califórnia deu o que falar e viralizou nas redes sociais. Nela, aparece um outdoor na frente da Neftlix com a seguinte frase: ” Não desista de seus sonhos. Nós começamos com DVDs”. Para quem entra na Netflix hoje em dia, direto de sua Smart TV ou do aplicativo do celular, parece até um pouco estranho, mas a criadora do serviço de streaming por assinatura começou alugando DVDs.
Afinal, quem vê sucesso não vê perrengue. E estamos aqui pra contar um pouco dos perrengues que a Netflix passou antes de ser, bem, A Netflix!
Primeiro que eles começaram a operar em agosto de 1997. Se você parou para tentar lembrar como era a internet em 97, já sabe que não era muito possível nem mesmo assistir um vídeo de um minuto sem travar, imagina vários episódios de uma série…. Por isso, eles começaram como um site para compra e aluguel de DVDs. Em menos de um ano, eles tiraram a opção de venda de DVD, porque perceberam que se seguissem por esse caminho, iriam ir de encontro com outros e-commerces que estavam começando a nascer.
Um desses e-commerces, inclusive, tentou comprar a Netflix em 1998. Sim, em 98, a Amazon se ofereceu para comprar a Netflix por algo em torno de US$ 14 milhões e US$ 16 milhões – um valor bastante considerável para a época, lembrando aqui que estamos falando de antes do momento dos valores bilionários de empresas. Reed Hastings, o cofundador e atual co-CEO da Netflix, chegou a considerar a oferta, mas recusou a operação quando já estava no avião voltando para a sede da empresa. Foi ousado.
Um ano depois, eles passarma a oferecer a assinatura. Você pagava 10 dólares por mês, e conseguia alugar um número de DVDs que quisesse. Já no começo dos anos 2000, eles deixaram de lado o modelo de aluguel por DVD. Pensem só, se antes eles conseguiam ganahr 5 dólares por DVD (mesmo que ocasionalmente, já que não é sempre que as pessoas veem o filme), eles passaram a receber US$ 10 / US$ 15 por assinante. Isso afetou diretamente a receita da Netflix. Em setembro de 2000, um pouco mais de 3 anos do nascimento, eles tinham 300 mil assinaturas (um volume bom), porem perdas anuais de US$ 50 milhões.
E aqui entra uma outra história de quase-venda. Nesse momento dos anos 2000, a Netflix poderia ter fechado, tamanho era o rombo. O que eles fizeram? Foram atrás da grande companhia do seu setor: a Blockbuster. Na época, a rede de videolocadoras americanas tinha um valor de mercado de US$ 5 bilhões. Reed Hastings chegou a oferecer a Netflix por US$ 50 milhões para a Blockbuster. O CEO da empresa, John Antioco, achou que aquilo era uma piada e não só negou a oferta como também respondeu: “essa histeria com as empresas ponto.com é completamente fora de proporção”.
Os executibos da Netflix, por sua vez, tinham a certeza de que a Blockbuster estava trabalhando internamente em oferecer um serviço similar ao deles. Para a Netflix duas coisas eram certas: o seu negócio não competia com as videolocadoras e a Blockbuster não podia se valer apenas das lojas físicas para crescer. Era ntural que, em algum momento, eles lançassem um site para aluguel e delivery. de DVDs. E, no momento que eles entrassem no negócio, seria o prego no caixão da criadora de Stranger Things. Esse movimento da Blockbuster nunca aconteceu.
No final das contas, a gigante das videolocadoras não se digitalizou por opção própria. E literalmente pediu falência anos depois.
DVD ou VHS?
Aqui cabe lembrar um outro detalhe – que não é tão detalhe assim – do modelo escolhido pela Netflix: os DVDs! Naquela época, o aparelho de DVD não era comum nas casas norte-americanas (muito menos nas brasileiras). E foi apenas em 2001 que houve uma massificação do formato, que acabou ultrapassando o VHS rapidamente. Em 2004, dois terços das casas norte-americanas já tinham um aparelho de DVD. Em 2006, já se tinham mais tocadores de DVD do que de VHS nos Estados Unidos.
Além de não focar em digitalizar seu negócio, a Blockbuster ainda optou por seguir com o aluguel de fitas em VHS. Com a esperança de que esse seria o modelo vencedor do mercado.
Já a Netflix passou a crescer, exatamente porque pegaram a clientela que a Blockbuster deixava de lado. No final de 2001, um ano depois de quase pedir falência, a Netflix estava virando o jogo: o número de assinaturas começou a crescer. Duas razões explicam o movimento: 1. Os Dvds passaram a se popularizar e 2. Por causa do ataque às Torres Gêmeas, em 11 de setembro deste ano, os norte-americanos não viajaram no último trimestre. O que acabou culminando no Natal de 2001 se tornado o “Natal do DVD”.
No lugar de comprar um filme para os amigos e familiares, as pessoas passaram a dar uma assinatura da Netflix. Afinal, pelo ‘preço’ de um DVD, os presenteados poderiam ter acesso a um catálogo grande e se divertir alugando os filmes que queriam assistir.
Pulo maior: do DVD para o streaming
O aluguem de DVDs deu certo, mas existia um problema no crescimento. Um problema físico mesmo: eles ficaram confinados aos Estados Unidos, e à logística toda de se entregar e pegar DVDs ao vivo. Em 2004, eles testaram alguns contratos com produtoras independentes para ter em seu catálogo alguns filmes e séries exclusivas.
Foi em janeiro de 2007, no entanto, que eles testaram o que a gente já conhece como a Netflix que amamos: um site com streaming de mais ou menos mil filmes. No catálogo, tinham os filmes e séries que eles já tinham como “exclusivos” para o aluguel de DVDs – foi quase que um reaproveitamento de contrato.
O que deu o “aviso” que eles deveriam pular para o streaming? Uma palavra. Ou seriam duas? YouTube. O crescimento do YouTube, que foi lançado em 2005 mostrou que havia público e infraestrutura para se assistir filmes online. Mas, assim, o que a Netflix lançou nesse momento foi algo que, se a gente olhasse agora, ia achar meio preguiçoso. A ideia era que usuário baixasse o filme de um dia para outro e assistisse ele uma vez em casa, sem precisar ter o DVD físico.
Em 2008, eles passaram a, de fato, oferecer o streaming como um “extra” para quem assinasse a entrega de DVDs. De 2008 a 2011, o foco da Netflix foi aumentar o catálogo. Eles aceleraram os contratos com produtoras de filmes e séries, com o objetivo de tornar o serviço atraente o bastante para os usuários. Afinal, eles tinham que forçar uma mudança de hábito por parte das pessoas.
Breaking Bad e séries originais
Em 2010, ou seja 13 anos depois de começar as operações, a Netflix comprou os direitos de passar Breaking Bad. A série estava para ser cancelada pela AMC, depois de uma queda nos índices de audiência na terceira temporada. A Sony acabou fechando um acordo para a Netflix colocar os episódios da série no sistema um pouco antes do lançamento da quarta temporada. O resultado assustou a todos: a audiência da quarta temporada na televisão “linear” dobrou. Isso foi chamado de o “Efeito Netflix”.
Com a explosão de Breaking Bad, a Netflix percebeu uma outra coisa importante: as pessoas estavam assistindo a temporadas todas de séries em menos de uma semana. A tal da maratona. Esse era um hábito novo, já que, na televisão, era “um episódio por semana”.
O efeito Netflix deu a força para a empresa discutir com os estúdios e, assim, eles conseguiram ir fechando cada vez mais contratos para ter séries que só passavam ali. Além disso, o efeito ainda serviu pra empresa perceber que, bem, se eles conseguiam reviver uma série considerada “morta” pelos produtores. Por que não conseguiriam colocar uma nova série no ar?
Foi mais ou menos assim que surgiu House of Cards. E com um detalhe: já que as pessoas maratonavam, eles lançaram a série de uma vez só. Todos os episódios da temporada.
E agora, vai um game aí?
Para a Netflix isso significa: problemas para manter um catálogo atualizado. Por mais que eles invistam em séries e filmes próprios, esse está longe de ser um negócio rápido e rentável. As produções exigem investimento grande e demoram para dar retorno.
Com a quarentena, o número de assinantes da plataforma subiu, chegou a 200 milhões pelo mundo. E, mesmo assim, existe um teto. Com a maior competição, eles tem que pensar em como fazer a assinatura valer a pena.
O caminho? Digitalizar! E para onde eles estão apontando? Para os games. Se essa é a melhor aposta, bem, daqui a cinco anos a gente conversa…
Moral da história
A lição que a Netflix dá para você como empreendedor é mais ou menos essa do cartaz que a gente colocou lá em cima: não desista. E aposte no digital. Nem sempre o seu negócio de agora vai ser igual ao seu negócio daqui a 10 anos, mas, se você focar em digitalizar, em observar de perto o seu cliente e a perseverar, pode ser que tenha uma Netflix nas suas mãos.